Mario de Andrade - 1922
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
E u insulto as aristocracias cautelosas!
Os Barões, os Lampiões, os Condes, Joões, os Duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam francês
e tocam os printemps com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nosso setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequial!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tílburi!
Padaria suíça! Morte viva ao Czar!
Ai filha, que te darei pelos teus anos?
Um colar... - conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!
Come! Come-te a ti mesmo, oh! Gelatina pasma!
Oh! Puréé de batatas morais!
Oh! Cabelos nas ventas! Oh, Carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
das eternamentes mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a central do meu rancor inebriante!
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de joelhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!
Burguês |
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